05 setembro 2006

Plutão na segunda divisão

Quase oito décadas depois de ter sido descoberto pelo astrônomo norte-americano Clyde Tombaugh (1906-1997), em 18 de fevereiro de 1930, como um ponto de luz enfraquecido entre as estrelas, Plutão, até a quarta-feira (23/8) o nono planeta do Sistema Solar, voltou literalmente às manchetes da mídia. Agora não mais na condição de planeta, mas como um mundo decaído, um planeta-anão, confundindo-se com outros corpos que orbitam as bordas do Sistema Solar, numa região chamada de Cinturão Kuiper.

A restrita assembléia da International Astronomical Union (IAU) realizada em Praga atualizou o conceito do que deve ser um planeta, e essa foi uma das razões para a queda de Plutão. O problema é que, mesmo em termos de nomenclatura planetária, talvez uma próxima assembléia da IAU (em 2009 ela está prevista para ocorrer no Rio de Janeiro) tenha que fazer readaptações. A busca de planetas extra-solares, como trará a edição de outubro da revista Astronomy Brasil, revela a identificação de planetas sem sóis, mundos não ligados gravitacionalmente a uma estrela ou sistema estelar errando solitários pela Galáxia.

Se for levada em conta a definição de limpeza da vizinhança da órbita para a definição de um planeta, a Terra também não se enquadraria nessas exigências. Limpeza de órbita, neste caso, está relacionada ao fim do processo de acreção, o aglutinamento de matéria responsável pela formação do planeta. A Terra ainda tem em sua órbita corpos de pequenas dimensões, o que significa que não completou a "limpeza" referida pelos defensores do novo modelo do que seja um planeta.

A baixa representatividade da assembléia da UAI (na qual participaram apenas 5% dos 9 mil associados) pode, ao menos em teoria, abrir as portas para novas readaptações.

Os jornais escreveram manchetes mais exóticas, os telejornais tiveram uma história palatável de fechamento, antes do boa-noite aos telespectadores, e as editoras de livros didáticos aplaudiram a reclassificação que lhes renderá rios de dinheiro. Mas cada um de nós que conviveu com Plutão na condição de planeta por todos esses anos sente que alguma coisa mudou. Como Plutão, que não é mais um planeta, também não somos os mesmos. Somos gente da época em que Plutão era planeta e em pouco tempo isso parecerá muito tempo.

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